Criei esse blog para servir de "diario" do meu doutorado. Colocarei aqui livros que estou lendo, sites, artigos, etc. O espaço esta aberto para discussoes, entao sinta-se livre para dar sua opiniao, sugestao de leitura, entre outras coisas.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Hiroshima mon amour PosterOutro dia vi Hiroshima mon Amour (1959) de Alain Resnais.

O texto do filme é muito bonito, assim como as imagens (as vezes fortes demais). O filme é inteiro poetico, como os filmes da Nouvelle Vague. Mesmo o som do filme é poetico, com sons que criam e evocam as açoes, dialogos, e sentimentos dos personagens.

Otima trilha composta por Georges Delarue.

Encontrei o filme todo na internet :



Otimo filme

Abraços

CH

ps : desculpem as descriçoes rapidas e a falta de analises mais profundas... ando sem tempo para escrever...
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
La règle du jeu (1939), otimo filme realizado por Jean Renoir, filho do grande pintor Auguste Renoir (existem varias historias engraçadas de Jean Renoir que vendia alguns quadros de seu pai para poder pagar seus filmes... nao tao vendaveis em determinado periodo de sua carreira)

O filme é um marco na historia do cinema, principalmente pela sua influencia na obra de outros diretores.Por exemplo, os planos profundos, possibilitanto varias açoes ao mesmo tempo (de uma forma bem teatral), podem ser vistos em varios filmes depois de "A regra do jogo".


Classico, otima comédia/drama.

abraços

CH
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Como prometi, vou postar o "tri-circulo" do som no cinema de Michel Chion. 

Em seu livro L'audio-vision Chion considera tres maneira de expressao sonora no cinema : dialogos, "barulhos" (ruido seria a traduçao para a palavra bruit, que em frances tem um significado mais amplo e nao tao pejorativo quanto barulho... sons em portugues é muito amplo também... enfim) e musicas. 

Essas tres expressoes sonoras se relacionam com a imagem de duas maneiras em relaçao à sua fonte sonora : quando sua fonte sonora é visivel e quando a fonte sonora nao é visivel.

1 - Fonte sonora nao visivel :
Som "fora do campo", ou fora do campo de visao (son hors-champ) : a fonte sonora nao é visivel na tela, mas ela pode fazer parte do "espaço-tempo" da ficçao. Também conhecido como som diegético. A diégèse designa o universo da ficçao, o mundo sugerido que o filme mostra.
Chion divide ainda o som "fora do campo" em :

Som "fora do campo" ativo (hors-champ actif ) : quando os sons, que nos nao vemos sua fonte (sons acousmaticos, segundo Chion), sao pontuais. Eles sao normalmente objetos (ou personagens) que participam da historia, e que, uma vez que eles nao sao vistos, eles consequentemente fazem o espectador se questionar  (Lipscomb e Tolchinsky, 2005, sugerem que essas questoes podem ser feitas conscientimente ou nao) : quem é que fala ? como é o rosto desse que fala ? o que fez esse som ? etc. Um bom exemplo de som "fora do campo" ativo (dado por Chion) é a voz da mae em Psycho (1960, Hitchcock).

Som "fora do  campo" passivo : (hors-champ passif) : constituido sobretudo de sons de ambiencia, cuja as fontes sonoras nao fazem parte diretamente da narraçao do filme.

Som off : o som emana de uma fonte invisivel situada dentro de um espaço-tempo diferente do representado na tela. Conhecido também como som extradiegético.

2 - Fontes sonoras visiveis :

Som in : o som emana de uma fonte visivel na tela. 

é importante notar que essas tres maneiras de relacionamento entre som e imagem sao intercabiaveis e dinamicos. Quer dizer que uma mesma fonte sonora pode transitar entre os tres. Por exemplo : uma musica que emana de um aparelho de radio que nos vemos na tela, dentro de um quarto junto com um personagem (som in) – em seguida, o personagem sai do quarto e a camera o acompanha, mas nos continuamos a ouvir a musica do radio (mas agora nos nao o vemos mais, som "fora do campo") – o personagem sai de casa, e a mesma musica e a camera o acompanham (som off, pistas da mixagem sao dadas também, por exemplo a musica ganha corpo e volume).

Chion integra a musica nesse modelo de fontes sonoras, mas a nomeia diferentemente :

Som in/"fora do campo" : musica de tela (musique d'écran), conhecida também como diegética. A fonte sonora faz parte do mundo da ficçao, ela esta dentro do tempo e do espaço da açao. Ela pode ser visivel (in) ou nao (fora do campo).

Som off : musica de fossa (conhecida também como musica extradiegética). A musica vem "de lugar nenhum", ela nao faz parte do mundo da ficçao, ela esta fora do lugar e do campo de açao. 

O modelo de Chion sugere ainda outros conceitos referentes à modulaçao do campo de açao, e em relaçao aos pontos de vista topologicos e espaciais :

Extensao : sobre uma imagem, nos podemos dilatar o mundo que nos nao vemos, o mundo "fora do campo" de visao, onde a imaginaçao é despertada pelo som. A musica pode igualmente produzir essa extensao (como defende Gorbman, 1987, e Lipscomb e Tolchinsky, 2005, com o conceito de profundidade espacial). Para Chion, o som pode criar um mundo "fora do campo" de visao de extensao variavel. Ele considera duas variaçoes de extensao :
Extensao nula : o universo sonoro é retraido aos sons ouvidos somente por um personagem, e somente ele.
Extensao vasta : os sons ambientes estao presentes juntos com o som do campo de açao. Por exemplo, os sons dentro de um quarto (som in), mas também os sons "fora do campo" como os sons da rua, de uma sirene de policia bem longe, sinos de uma igreja, enfim, do universo do filme.

Som ambiante (som-territorio) : eles servem para marcar um lugar, um espaço com sua presença continua e espalhados por todos os lugares. é essa ambiencia que engloba uma cena (cantos de passaros, barulho da cidade, etc).
Som on the air : sao os sons presentes em uma cena e que sao transmitidos eletronicamente (radio, telefone, etc) e que contrariam às leis mecanicas "naturais" de propagaçao do som. Eles fazem parte do mundo sonoro do filme, mas se propagam livremente (como nos ja vimos em American Graffiti).
Som interno : é o som que corresponde ao interior fisico ou mental de um personagem, ele pode ser :
Objetivo : sons fisicos produzidos pelo corpo (respiraçao, batimentos cardiacos, etc).
Subjetivo : sons que estao dentro da cabeça do personagem (vozes mentais, lembranças, etc).

Chion ilustra sua teoria com esse modelo : 

Desculpem, o modelo esta em frances, nao tive tempo de fazer um outro em portuges, esse foi tirado da minha dissertaçao de mestrado (mas esta presente no livro do Chion). 

Os termos em negrito sao as grandes divisoes de fontes sonores no cinema. Elas estao divididas por linhas. Alguns conceitos cruzam essas linhas, pois podem interagir de varias maneiras com a imagem (como vimos no exemplo do radio).

Esse modelo nos ajuda a nos localizar nesse mundo virtual criado pelo filme. Ele é um bom ponto de partida para a analise do som  e também da musica no cinema.  

Sugiro a leitura do livro L'audio-Vision para maiores detalhes...

abraços

CH
sábado, 11 de dezembro de 2010
Scott D. Lipscomb é um autor que gosto bastante. Ele escreve artigos dentro da area de psicologia da musica de filme, e é um dos poucos autores (nessa area) a considerar a trilha sonora (soundtrack) como sendo todos os elementos sonoros do filme (musica, sons, dialogos). Seu site é bem interessante (um pouco confuso, é verdade) e alguns de seus artigos estao disponiveis para download.

Abraços

CH
terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Vi um documentario que se chama Gasland (2010).


O diretor Josh Fox percorre os EUA filmando estaçoes de extraçao de gas natural e mostra as consequencias na vida das pessoas que moram perto (ar contaminado, agua que pega fogo, doenças, etc). Muito triste ver o que o dinheiro faz com as pessoas (as empresas negam que exista algum tipo de contaminaçao... e elas nao sao obrigadas a falar quais quimicos eles usam, pois sao protegidas por uma lei... a mesma lei, por exemplo, permite que a Coca-Cola, ou o McDonald's, nao mostrem de que sao feitos seus produtos... tipo proteçao industrial)

Vale a pena ver, pois o documentario é muito bem feito... mas é meio triste ver o descaso e pessoas correndo pergido (e morrendo) por conta disso.

o trailer :



Abraços

CH
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
L'oeil du diable PosterOntem vi O Olho do Diabo (1960) de Ingmar Bergman.

O filme é uma comédia, mas com as discussoes existenciais e perfis psicologicos tao marcantes nas obras de Bergman.

A direçao é cheia de detalhes, como planos onde personagens "dialogam", mas as imagens nos sugerem monologos e reflexoes pessoais... otima direçao (como sempre... sou fã de Bergman, entao fica facil falar dele). Algumas referencias à quadros, comum nos trabalhos de Bergman também estao presentes... dariam uma boa analise.

O som é muito bem trabalhado. Bergman utiliza os sons para construir os "caraters" dos lugares... além disso os sons que escutamos sempre significam algo, ou participam da narraçao do filme... tudo sempre muito bem pensado e realizado.

A musica é bem divertida. Ele usa peças do compositor barroco Domenico Scarlatti, que no contexto do filme ajuda na criaçao do humor (dentre outras funçoes)... poderiamos fazer uma boa analise, também, da musica de O Olho do Diabo (por condiçoes de tempo nao poderei postar tao cedo uma analise detalhada do filme).

Otimo filme

Recomendo

Abraços

CH
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Otimo filme, com grandes surpresas em relaçao a obra de Hitchcock (nao temos a loira classica de seus filmes e suas apariçoes por exemplo). A direçao é genial e faz desse suspense (comédia ?) imperdivel. 

A trilha sonora é de Bernard Herrmann. A musica, ja nos créditos iniciais nos "autoriza" a rir (mesmo o humor sendo um elemento constante nas obras de Hitchcock, ele nao é seu tema principal, e sim uma maneira meio sadica de lidar com suas historias). é por fazer parte de uma "tradiçao" de filmes de suspense, que os elementos menos "carregados", ou mais "ligeiros", da musica no começo sao tao importante. Ela nos da indicios de que o riso é permitido...mas mesmo assim o espectador acaba esperando mais um pouco do desenrolar da historia para se permir rir (a musica do inicio nos faz esperar um pouco também, pois ela ainda tem alguns momentos dissonantes, e tensos, nos deixando na duvida do riso). 

Otimo filme, recomendo fortemente.

Abraços

CH
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Encontrei no youtube um canal com varios programas sobre musica apresentados pelo compositor Leonard Bernstein.

Esse é sobre orquestraçao. Muito divertido.




















Abraços

CH
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Film Music : A Neglected Art é um livro escrito por Roy Prendergast e foi publicado em 1977 (primeira ediçao) e em 1992 (segunda ediçao com alguns capitulos a mais). 

O autor escreve sobre a historia da musica no cinema até 1977 (a segunda ediçao traz algumas informaçoes da decada de 80 também), assim como a estética e tecnicas de composiçao de trilhas sonoras. Ele faz também algumas analises à partir de exemplos de partituras ou materiais usados por compositores (algo bem dificil de encontrar nesse tipo de literatura). 

O livro é interessante e vale a leitura, mas alguns cuidados devem ser tomados. Prendergast "toma" o ponto de vista do compositor e do musico, e faz suas analises quase sempre com bases na musicologia (como forma, etc.). Falta um pouco de recuo, e sobretudo considerar a relaçao "multimidia", entre musica, sons, dialogos e imagens. Mas vale lembrar que o livro foi escrito em 1977, e claro, o contexto tem que ser levado em conta. Tais analises "multimidias" ainda engatinhavam na época, e pouco se havia publicado sobre musica de filme. Mas mesmo assim suas analises sao coerentes. 

"Causos" sobre compositores, diretores ou filmes também sao contados pelo o autor, o que é sempre engraçado e interessante ao mesmo tempo. 

Do ponto de vista historico, ou seja, como documento de uma época quando nao existiam muitas publicaçoes sobre o assunto, Film Music : A Neglected Art é um livro bem interessante. Mas como referencia teorica, existem outros estudos (mais recentes) mais profundos sobre a historia, a estética e a analise da musica de filme. 

Abraços

CH
domingo, 28 de novembro de 2010

O filme é bem estranho, com um ritmo um pouco lento e sem tantos elementos "interessantes" a destacar. Vi The Cobweb mais interessado pela musica de Leonard Rosenman. A trilha é quase completamente serial... alguns téoricos a colocam como a primeira trilha sonora (quase inteiramente) serial da historia do cinema. Mas, algumas "experiencias" ja aconteciam no mundo dos desenhos animados desde os anos 40... é interessante notar que esses teoricos tomam como referencia o cinema americano, mas nao sou capaz de me lembrar de nenhum filme europeu com a trilha sonora composta pelo dodecafonismo serial de Schoemberg. Se alguem souber, nao deixe de comentar e nos dar essa dica... 

A principal funçao da musica no filme seria o que Chion chama de "som interno subjetivo". Seria o som "dentro" da cabeça dos personagens... mas a musica nesse sentido é capaz sobretudo de estabelecer "perfis psicologicos" e estados de humor...

Muito interessante, e Rosenman mostrou que é possivel construir melodias "bonitas" à partir desse tipo de estilo composicional. 

Abraços

CH 
sábado, 27 de novembro de 2010
Tres filmes que vi recentemente : 



Comédia francesa com Franck Dubosc um comediante famoso por aqui (e muito engraçado). O filme é um bom passatempo, mas é importante conhecer alguns habitos franceses, e cultura local para poder entender varias piadas (e o filme como um todo). O filme tem uma historia bem cliché, mas a maneira como o frances conta esse tipo de historia faz o filme ser engraçado...




Very Bad Cops Poster




Uma comédia cheia de nonsenses, mas com um toque ironico e bem sutil (que fica claro so nos créditos do final) à situaçao economica, e à crise, de 2008. O filme é bem engraçado, e cheio de referencias... a narraçao é um pouco cliché (o policial que é afastado, mas mesmo assim continua a investigaçao...), mas ela também é cheia de surpresas. Bom passatempo também. 



The Killer Inside Me Poster


Bom filme, se você aceitar algumas premissas que ele te impõe. As cançoes escolhidas para o filme sao realmente muito boas, e participam bem da narraçao. Principalmente as "musicas de tela" ou "in" (diégéticas). O ponto fraco da trilha sonora fica para a musica composta especialmente para o filme. Ela é realmente um background, esta la somente para estar la. A trilha composta nao contribue em nada ao filme... um filme com fatores psicologicos tao importantes, e "eventos subjetivos" assim deveria ter uma musica mais cuidadosa e que explorasse o sentimento interno do personagem principal (assim como fez Bernard Herrmann em quase todos os filmes em que ele trabalhou). Realmente decepcionante um filme com grande potencial para uma grande trilha sonora, nao ter sido feito com um maior cuidado...

Abraços

CH

sexta-feira, 26 de novembro de 2010
The Informer PosterOutro dia vi The Informer (1935) do diretor John Ford. A trilha sonora é de Max Steiner.

A fotografia do filme é muito bonita, cheia de sombras e contrastes( à la cinema alemao). As atuaçoes também sao otimas. A musica é bem interessante, bem no estilo Steiner de fazer musica (cheio de leitmotivs, etc). O mais engraçado é que ainda em 1935 a musica deveria "se justificar", sua presença no filme deveria ser justicada por algum evento na tela. Entao, varios pontos de sincronisaçao sao explorados por Steiner. Isso quer dizer que se ha silencio, logo que alguem bata uma porta (ou algo do genero), no momento do "clac" da porta, a musica começa (ou termina)... isso era muito comum logo no começo dos filmes falados...

O filme também começa quese "mudo", sem sonorizaçao, so musica e imagem. Uma "trangressao" ao cinema falado generalizado no fim dos anos 20 (nos EUA so Charles Chaplin continuou a fazer filmes mudos por convicçao e claro, por motivos comerciais... varios problemas vieram junto com os filmes falados, mas essa é uma historia para outro post).

Otimo filme. Recomendo.

Abraços

CH
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Lord, Save Us from Your Followers PosterOutro dia vi um documentario que se chama Lord Save Us From Your Followers (2008) realizado por Dan Merchant. O documentario é bem interessante e explora a discussao entre religioes nos EUA. Nao é mais um documentario contra a igreja, contra religiao e etc. Ele tenta achar um meio termo entre as dicussoes, criar dialogos entre as partes e informar as pessoas. No final tive a sensaçao de estar vendo uma propaganda pro cristaos, mas o filme é interessante mesmo assim...

Criativo e engraçado, vale a pena ver o documentario.

Encontrei no youtube aqui. Esta dividido em partes, é so ir seguindo.

Abraços

CH
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Aproveitei um pouco dos fins de tarde desses dias frios para ver alguns filmes mais recentes e talvez nao tao bons... estava na duvida se postava aqui no blog esses filmes, mas como faz parte ver todos os tipos de filmes ("bons e ruins") resolvi postar todos juntos.

Basic Instinct 2 (2006), de Michael Caton-Jones

Basic Instinct 2 PosterDepois da pequena analise que fiz do primeiro filme, fiquei curioso para ver o segundo. Basic Instinct 2 cita muita coisa do primeiro, o que é sempre legal, mas existem algumas cenas e eventos narrativos bem literais como a primeira sequencia de sexo do filme, onde o ator principal esta com uma colega de trabalho mas esta pensando na Catherine (Stone). Isso acontece também no primeiro filme, quando o pensamento do homem em outra mulher é sugerida pela musica, no segundo filme o personagem principal fica olhando para a foto a Stone...

Na analise falei de motivo e como ele faz sentido no filme, etc. Mas acontece que alguns elementos que se repetem no filme e que poderiam ter algum significado, acabam nao tendo nenhum, o que nos deixa meio decepcionados... em Basic Instinct 2 existe um motivo claro, que se repete durante o filme todo, sem exageros. Toda vez que temos um personagem enquadrado na tela, principalmente o personagem principal, ele nao esta nunca no meio do quadro, e sim em um dos lados. Isso deixa o lado oposto vazio. E esse vazio precisa ser preenchido. Durante o filme esse espaço vazio é preenchido por algum outro personagem que participa, ou vai participar, da açao. Acaba que esse motivo, nao era um motivo, e nao carrega nenhum seginificado especial... se ele so existice so ao lado do personagem principal e fosse preenchido somente pela personagem de Stone, teria algum sentido... ou se ele ficasse sempre vazio, poderia ter alguma relaçao com o fim do filme, mas isso nao acontece...


Um dos tantos exemplos que eu poderia ter extraido do filme

A musica fica longe da musica do primeiro filme, tanto na utilizaçao como no estilo. Vimos na analise que a musica "pertence" a Catherine. No segundo filme, ela é utilizada quase de qualquer maneira... o tema principal é citado duas ou tres vezes, mas quase aleatoriamente... uma pena.



La machine à démonter le temps Poster
Hot Tube Time Machine (2010), de Steve Pink

O filme é engraçado, com um monte de referencias divertidas. A trilha sonora é composta por cançoes pop dos anos 80, decada onde se passa grande parte do filme. O filme acaba sendo um bom passatempo, nao mais que isso...






Um elemento une os dois filmes : a fotografia, mais precisamente as cores predominantes dos dois filmes. Li um artigo em um blog que analisava as cores dos filmes Hollywoodianos de uma maneira bem interessante. A analise dizia que grande parte dos filmes americanos feitos em Hollywood tem a prenominancia das cores azul e laranja. A explicaçao é que na "roda" das cores, tonalidades de azul e tonalidades de laranja sao opostas, e quando colocadas juntas, elas nao "se misturam" criando um maior contraste entre elementos com essas cores.

 
foto tirada do blog

E a tonalidade da pele humana fica mais ou menos nessa gama da tonalidade laranja. Entao, azul sendo o oposto do espectro do laranja, faz com que a pele "salte" aos olhos do espectador. Mas acontece que fazendo assim, os filmes acabam tendo a "fotografia" igual... ja nao bastasse as historias e morais serem sempre as mesmas, agora as cores também sao. Essa analise é um pouco radical, mas quando você começa a ver filmes mais recentes, e que realmentes eles sao azuis e laranjas, isso incomoda um pouco...

Tanto Basic Instinct 2, quanto Hot Tube Time Machine sao filmes laranjas e azuis ao ponto de realmente incomodar, ou saturar a visao.


Diary of a Wimpy Kid Poster
Diary of a Wimpy Kid (2010), de Thor Freudenthal

O filme também é um bom passatempo. Ele é a adaptaçao da historia em quadrinhos de mesmo nome. O filme mistura alguns efeitos de desenho animado de uma maneira bem interessante. Nao tenho muitos comentarios na verdade...

Ah, o filme nao é laranja e azul.


  

Aquele abraço

CH
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Oxford Handbook of Music Psychology (Oxford Library of Psychology)Otimo livro para quem se interessa por "psicologia da musica". O livro reune artigos que sao em sua marioria resumos das principais areas de pesquisa envolvendo musica e psicologia. O livro é recente, foi lançado em 2009. Me interessei principalmente pelos estudos da memoria, expectativas e musica "de todo dia".

Para quem se interessa por musica de filme, dança e teatro, destaque para o artigo de Annabel J. Cohen. Ela resume as mais recentes pesquisas (englobando estudos feitos nos ultimos 20 anos), principalmente sobre musica de filme, deixando um espaço pequeno para os outros dois campos.

Otima bibliografia, mas infelizmente ainda esta custando caro (como todos os Handbooks feitos pela Oxford).

Abraços

CH
sábado, 20 de novembro de 2010
Ainda sem muito tempo para postar...

Ai vai um documentario sobre a composiçao da trilha sonora de Star Wars. O documentario mostra um pouco da rotina do compositor e conta um pouco da historia do John Williams. Ele foi rodado nos anos 70 e ver a tecnologia usada na época é bem interessante.










http://www.youtube.com/watch?v=TzeIkREjFMI  (o youtube nao me deixou colar o video aqui).






Abraços

CH
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
O tempo anda meio curto para postar aqui no blog... entao serei breve nos proximos posts...

Encontrei esse documentario sobre Bernard Herrmann (um dos grandes compositores do cinema americano). O documentario é interessante e mostra um pouco da vida profissional desse grande compositor. Lembrando que é um documentario dedicado à ele, entao, criticas e fatos "negativos" sobre seu estilo de compor, sua relaçao com Hitchcock e sua vida pessoal nao sao tao bem detalhados.

Mas vale conferir... o documentario esta em ingles e sem legendas.



















http://www.youtube.com/watch?v=gpjfW-_iQQc
(o youtube nao me deixou colar o video aqui, entao é seguir o link).




Abraços

CH
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Day the Earth Stood Still in 1951Outro dia vi The Day The Earth Stood Still (1951), de Robert Wise. A musica foi composta por Bernard Herrmann.

Em relaçao ao som do filme o que chama a atençao sao os efeitos sonoros futuristicos (as vezes nem tanto) e os sons das TVs e radios. Mais uma vez encontramos o que Chion chama de som "on the air" (ja falei sobre isso no post sobre American Graffiti... mas ainda vou colocar o tri-circulo de Chion algum dia aqui no blog).

A musica é bem interessante pelos seus instrumentos "estranhos" (cordas elétricas, manipuladas e distorcidas, uso do teremin) e utilizaçoes nao habituais como som tocado ao contrario. Ela ajuda a descrever esse mundo ficticio, mas nao "interfere" tanto na narraçao do filme como outras trilhas sonoras compostas por Bernard Herrmann.

Encontrei o filme inteiro na internet é so clicar aqui.

Abraços

CH
sábado, 6 de novembro de 2010
Basic Instinct PosterNesse final de semana assisti à Basic Instinct (1992, Instinto Selvagem) de Paul Verhoeven. O filme é conhecido pelas cenas fortes de sexo e nudez (quem nao se lembra da cruzada de pernas de Sharon Stone ?).

Mas vendo o filme percebi que a musica contribui de uma maneira bem interessante à narraçao. Para mostrar que a musica é importante mesmo em filmes comerciais, ou que ela nao é somente importante em filmes de autor ou em filmes antigos, vou fazer uma pequena analise. Para quem nao viu o filme eu sugiro que va ve-lo e depois leia o texto, pois terei que contar um pouco da historia... e o final do filme.

A musica foi composta por Jerry Goldsmith.

Analise da funçao narrativa da musica em Basic Instinct : nao tenho como intuito analisar a musica em si (melodia, textura, harmonia, humor, etc.). O objetivo principal é a relaçao da musica com o filme. Como ela ajuda a contar a historia e como ela participa dessa experiencia narrativa.

Em teoria musical nos temos um elemento que se chama motivo. Motivo é uma "figura" musical recorrente (notas, pequenos ritmos, etc.) O "tan-tan-tan-tannnnn" da 5 sinfonia de Bethoven é um motivo. Nos escutamos esses celula de tres notas em todo o primeiro movimento por exemplo. O motivo cria unidade, e serve de material de desenvolvimento para o compositor. Para virar "motivo" essas celulas tem que ser percebidas pelo ouvinte, e assim ganhar importancia no contexto onde elas se encontram. é importante destacar que mesmo o auditor nao especializado (que nao tem treinamento musical) é capaz de reconhecer  essas celulas. Seu cérebro é capaz de organiza-las e de dar sentido a essas formas. Isso porque a aprendizagem auditiva se da principalmente pela simples exposiçao repetida a um certo estimulo. Os conhecimentos implicitos guiam a percepçao do auditor (principalmente o nao musico). Isso se chama aprendizagem implicita. Mesmo sem ter o conhecimento verbalizado, o auditor sabe muito bem o que se passa, e é capaz mesmo de prever (ou de se decepcionar com) eventos musicais futuros. Os compositores jogam com isso o tempo todo. é claro, que tudo depende do contexto cultural onde esta inserida a obra e o auditor, e também da "enciclopédia cultural" de cada um.

O conceito de motivo também é utilizado na analise de filme. Ele foi projetado do meio musical para o meio filmico, principalmente na analise de imagem. O motivo tem também como caracteristica sua repetiçao. Se ele se repete, e é "evidente", provavelmente ele é importante. Um motivo recorrente em varias obras cinématograficas (a gente vê isso muito nos filmes de Hitchcock) é a espiral. A espiral tem varios significados : o matematico (a curva que gira em torno de si, se afastando do centro e voltando à ele), os misticos, e outros significados metaforicos.

A espiral "figura" bem a historia de Basic Instinct. O ponto central é a escritora Catherine Tramell (personagem de Sharon Stone) ; ela escreve sobre sua vida real, e pratica na vida real o que escreve (ela supostamente mata seus personagens da mesma maneira que escreve) ; sua perseguidora, a psciquiatra Beth Garner (interpretada por Jeanne Tripplehorn) a segue e a imita ; e por mais que o mistério de quem matou o homem no começo do filme se "revele" quando descobrimos que a perseguidora é a assassina, ainda ficamos na duvida se Catherine realmente nao o matou, ou vai matar o proximo personagem de seu livro (assim como é sugerido que ela faz, e sempre fez). A historia sempre volta à personagem de Stone.

No entanto, nao é certo quem matou o homem no começo do filme. Nos nao vimos o rosto do assassino, so os cabelos loiros e o corpo de mulher. A narraçao entao sugere que a escritora (loira e mulher, e com um historico no minimo suspeito) é a assassina do começo do filme. Mas mesmo com o misterio solucionado (o filme, atravez da policia, conclui que a assassina é a psciquiatra) o filme ainda volta à personagem de Stone, e sugere que ela ainda é um mistério, um perigo, e que provavelmente esta envolvida com o assassinato (e que vai continuar a matar os personagens principais de suas historias).

Essa "espiral" percebida na historia é representada em varias esferas do enunciado narrativo.

Ela é uma imagem :


A escada em espiral pode ser vista à 01:07:20 do filme e vai até 01:07:38 intercalada com alguns planos onde ela nao é explicitamente "figurada".  

E ela é musica :

O tema principal começa desde os segundos iniciais do filme. Logo nos créditos. O tema (o seu contorno mélodico) também é construido em "forma de espiral" : ele começa em uma nota mais aguda (La, no logo no inicio), desce cromaticamente (criando instabilidade) e volta para a mesma nota. O tema se desenvolve, mas o motivo (musical ou o "figural" é o mesmo). O acompanhamento do tema também é uma repetiçao de si mesmo, e um retorno ao seu propio inicio.  

Na primeira sequencia do filme, onde presenciamos o assassinato que da inicio a narraçao, nao conseguimos ver o rosto da mulher. Nao sabemos a identidade da assassina. O tema do inicio continua, e aumenta em instabilidade, volume, etc.  para acompanhar a tensao da açao na tela (a mulher pega a arma e mata o homem). A musica ai, se associa ao assassinato e ao misterio de quem o praticou. 

A musica do filme nao é construida  de leitmotivs (tema associado à algum personagem, sentimento, açao). Essa é uma escolha narrativa classica. Ao escutar um tema musical ja associado à algum elemento do filme (por exemplo um personagem) dentro de um outro contexto, onde o mesmo elemento esteja presente ou nao, esse tema musical reenvia seus significado à sua associaçao original... funciona como uma resposta condicionada. 
Jerry Goldsmith controi um so possivel leitmotiv : o tema cromatico do começo do filme. Esse tema se associa à assassina. Sempre que referecias sao feitas ao assassinato, ou à algumas apariçoes da suspeita numero um (Stone) ele aparece (bem variado, e quase nunca na sua forma original). Mas, a musica em si mesma pode ser considera como um leitmotiv da personagem de Stone. Pois elas estao sempre juntas. Nao existe musica no filme sem a personagem de Stone, ou que nao faça alguma referencia à ela.  


Como vimos, a recorrencia da musica em todo o filme também acontece "em espiral" (ela sempre acompanha a personagem de Stone) :

No começo do filme, quando os detetives vao à casa de Catherine, interroga-la, uma mulher, loira, desce as escadas (nos nao conseguimos ver quem é) e a musica esta presente. Mas assim que é revelado que ela nao é a loira do crime (pois ela nem é tao loira assim) a musica acaba... 

Se Stone nao esta fisicamente presente, ela esta na "cabeça" do detetive.  À 00:36:00 Nick vai ao apartamento de sua psciquiatra Beth Garner. A musica participa dessa sequencia de sexo. A personagem de Sharon Stone nao esta presente... fisicamente. Mas Nick esta pensando nela. No fim da sequencia, Beth pergunta a Nick à quem ele fez amor... ele exita em suas resposta... e ela explica que ele nunca foi assim violento. Esse dialogo reforça ainda mais a ligaçao entre a musica e Catherine.

A musica ainda sugere a personagem de Stone (01:2427) quando alguem (nao sabemos quem) dirige seu carro e tenta atropelar Michael Douglas. Nao sabemos quem esta dirigindo, mas a musica nos da a dica : provavelmente é Catherine (a quem ela sempre acompanha). Assim que é revelado que quem dirigia o carro era Roxy, a namorada de Catherine, a musica para... como que dizendo "ha, nao é ela...te enganei de novo". Dessa maneira, a musica joga com nossas expectativas o tempo todo. Ela cria uma previsibilidade, que é confirmada ou nao.

Quando Douglas atira em sua psciquiatra, logo no fim do filme, a musica também acompanha essa sequencia. Sua associaçao principal é a personagem da escritora, nesse ponto do filme nos nao temos mais duvidas... mas aqui, mesmo apos a "loira" matar o parceito de Douglas, a musica ainda continua... mas quem aparece na tela nao é a Sharon Stone, e sim sua perseguidora, a psciquiatra... a desconfiança de Nick o faz atirar e matar Beth... a musica deixa os espectadores confusos, se ela é propiedade de Stone, o que ela faz ai nessa sequencia... entao, a hipotese é : ela na verdade acompanha a assassina (o tema "principal" esta presente nessa sequencia, mas ele nao é apresentado na sua forma original, e sim em uma forma bem variada). Logo nao temos mais duvidas de quem era a assassina do começo do filme : a "loira" era a perseguidora. A musica termina assim que Douglas atira. Assassina morta, a musica nao tem mais porque existir. 

A musica so volta com os fatos que "confirmam" que a assassina é a psciquiatra (o descobrimento da peruca loira, a arma, os livros e artigos encontrados em seu apartamento). O filme muda totalmente a associaçao feita antes : a musica (que engloba o tema da assassina no começo) que era de Catherie agora pertence à assassina (que nao é a Catherine) fomos enganados o filme todo... sera ?

Minutos depois a musica volta. Estamos na delegacia, sem a presença (fisica ou mental) da assassina ou da suposta assassina. A musica gera um conflito, porque nenhum elemento, antes associado à ela, esta presente. Esse conflito é gerado pois o contexto construido durante o filme (musica sempre com Stone, depois assassina) é violado. 

Na continuaçao do filme, à 01:58:51, Michael Douglas volta ao seu apartamento. Varias pistas (musicais sobretudo) nos sao dadas nesse momento para acabar com esse conflito criado pela musica. 
Primeiramente : qual imagem podemos ver quando Nick entra em seu predio ?

Sim, a espiral novamente... Qual o tema musical que volta ao seu estado original ? sim, o tema do inicio do filme (tema cromatico, na sua forma original) do primeiro assassinato. 

A musica, desde que ela começou, esta jogando com nossas expectativas : apos criar um contexto ela te surpreende. Ela jogou com sua previsibilidade o tempo todo (musica=Catherine). E ao criar esse conflito, essa surpresa (musica=assassina que nao é Catherine), e apresentar o tema principal, ela anuncia algo...

E quem surge à 01:59:18, dentro do apartamento de Nick ?


Sim, Catherine. Mas porque o tema do inicio esta presente no começo ou em algumas partes dessa sequencia ? ela nao é a assassina (que foi morta por Nick), o que se passa ? (essas perguntas sao feitas pelo espectador... um pesquisador que gosto muito, Scott Lipscomb, diz que essas perguntas sao feitas conscientemente ou mesmo inconscientemente). A musica tenta responder à essas questoes (dentre outras mais), mas os dialogos e as imagens nos dizem outra coisa : ela gosta de Nick, e nao quer perde-lo. Mas como ela vai perde-lo sendo que a assassina foi morta ? Quem poderia mato-lo ainda ? a musica tenta "desesperadamente" mostrar que Catherine talvez nao seja o que ela fala que é, e que todas as associaçoes feitas anteriormente nao foram feitas ao azar. Musica e dialogos (e imagens também) nos dizem coisas diferentes nessa sequencia... cada um sustenta um lado da historia (musica=vou te matar ; dialogos=te amo). 

Ja na cenas finais, na cama, sempre em que momentos de tensao ou referencias aos gestos do assassinato no começo do filme, o tema principal é citado pela musica. O tema nessas sequencias é bem exitante... assim como Catherine sobre seu relacionamento com Nick (e talvez sobre mata-lo ou nao ?). O dialogo deixa claro que ela nao vai matar Nick.... mas as açoes de Catherine nos dizem outra coisa. Ela faz as mesmas coisas do começo (espiral ?), passa a mao na cama, procurando algo... ela se debruça sobre Nick (a camera nao nos mostra sua mao, ou o que se passa logo que ela se debruça sobre ele.... ela faz um traveling lateral, para entao nos mostrar que nada aconteceu... a musica fica suspensa nesse ponto).

A mesma coisa acontece minutos depois. Catherine esconde sua mao do lado da cama, enquanto Nick esta de costas. Ela aparenta ter pego algo (a musica monta em dinamica, principalmente o vibrato das cordas... o vibrato, em pscicologia musical, representa um corpo que vibra, e o corpo que vibra esta em alerta, tenso... bilogicamente, algo pronto para atacar). Novamente, ela vai com a mao em direçao à Nick, como um golpe. Mas ela nao tem nada em suas maos. O tema principal reaparece, tocado pela orquestra toda, quase apoteotico (um climax musical... os elementos narrativos do filme querem que ela seja a assassina, mas ela nao é...). Tela preta. Acabou... nao, a musica continua. A imagem dos dois na cama retorna, a camera desce em direçao ao que Catherine supostamente segurava (as imagens anteriores nos motraram que nao era nada). Mas ao alcançar o nivel do chao vemos o picador de gelo. Arma de seus crimes. Esse traveling da camera é acompanhado do tema principal, o tema do assassino. 

Sem mais duvidas a musica volta ao seu "ponto" de origem : o assassino. Que agora, nos é verdadeiramente revelado. Quem matou o homem no começo do filme nao foi Beth, e sim Catherine. A musica a denunciou desde o inicio do filme. Mas por um evento inesperado perto do fim, nos ficamos em duvida. No entanto, a musica nao nos decepciona, e revela a verdadeira face do assassino durante toda a historia (a imagem, direta, exata, so nos revela a verdade no ultimo plano). 

Catherine nao mata Nick, mas a arma esta ali, a intençao estava ali. Os dispositivos narrativos tem sempre um começo e um fim (o filme começa e acaba). A historia nao. Os creditos finais começam, mas a musica, mesmo que exitante, continua. Ela é tao importante para o filme, que mesmo com os créditos finais ela continua "a contar" a historia. O tema ouvido é o tema principal, do assassino. Ela nao sugere o "final feliz" que Nick preve...Nick  nunca esteve no controle das informaçoes, ou das açoes do filme... Catherine, e a musica sim... o tema principal nao para. A musica nao deixa que a historia acabe...

Em Basic Instinct, a musica é um elemento narrativo importante. Ela cria expectativas. E essas expectativas desenvolvidas pelo contexto sonoro sao projetadas à narraçao do filme. A musica pode nos fazer prever eventos, nos decepcionar, ou ainda confirmar nossas expectativas. Contribuindo assim à construçao da historia e ajudando à conta-la.    

Para quem quiser ouvir o tema principal (do assassino), é so clicar aqui

Abraços

CH
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Li esse artigo hoje. Ele é bem leve e muito interessante. O autor conta "os acertos e erros" cientificos do filme.

O artigo é bem curto e informativo... ele é de 2004.

O mais interessante, é a noçao de que toda vez que lembramos de uma coisa, a gente passa a ter uma "mémoria da mémoria"... a gente literalmente recria nossas memorias todas as vezes que nos lembramos delas.

Vale a leitura.

abraços

CH
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
American Graffiti PosterHoje vi American Graffiti, 1973, segundo filme (importante) de George Lucas. Foi também também o primeiro filme de Harrison Ford.

A trilha sonora do filme é genial, e foi realisada pelo sound designer Walter Murch. A trilha sonora, quase constante, é uma estaçao de radio (onipresente) e alguns sons bem trabalhados.

Nao da para saber exatamente quais sao as fontes sonoras do filme. O som de radio se propaga pela espaço livremente. Ele esta "no ar".  é o que Michel Chion chama de musica "on the air" : musicas ou sons provenientes de algum aparelho eletronico, mas que se propagam livremente, nao obedecendo suas ordens "naturais" ou logicas de propagaçao. O som (a trilha sonora contem sons e musicas) do filme é uma atraçao à parte. Ele foi quase todo reconstruido ou gravado em estudio. Suas interaçoes com a historia, dialogos e açoes dos personagens sao geniais.

Recomendo ouvir o filme atentamente.

Abraços

CH
Hoje peguei uma parte do dia para ler os artigos que ainda nao tinha lido da revista Psychomusicology, 13, 1994. (é so clicar no nome para baixar os artigos).

Essa ediçao da revista foi consagrada à musica de filme. Os artigos sao, em sua maioria, interessantes. Quase todos testam em laboratorio os efeitos da musica sobre imagens em movimento (nem todos usam filmes, alguns usam animaçoes bem simples, que nao podem ser chamadas de filmes, e passam longe da experiencia cinématografica...).

Destaco :

"AN EMPIRICAL INVESTIGATION OF EFFECTS OF FILM MUSIC USING QUALITATIVE CONTENT ANALYSIS"
Autores : Claudia Bullerjahn & Markus Guldenring

"EFFECTS OF UNDERSCORING ON THE PERCEPTION OF CLOSURE IN FILMED EVENTS"
Autores : William Forde Thompson, Frank A. Russo, Don Sinclair

"SEMANTIC AND FORMAL CONGRUENCY IN MUSIC AND MOTION PICTURES: EFFECTS ON THE INTERPRETATION OF VISUAL ACTION"
Autores : Valerie J. Bolivar, Annabel J. Cohen, John C. Fentress

"PERCEPTUAL JUDGEMENT OF THE RELATIONSHIP BETWEEN MUSICAL AND VISUAL COMPONENTS IN FILM"
Autores : Scott D. Lipscomb, Roger A. Kendall





Dos artigos que disponibilizei para baixar, so nao tem a introduçao, escrita por Cohen (mas ela pode ser baixada do propio site da autora).

Abraços

CH

terça-feira, 2 de novembro de 2010
Le récit filmiqueTerminei de ler hoje o livro "Le Récit Filmique"(1993) de André Gardies.

Muitos dos textos que falam sobre a musica de filme sao falhos ao descreverem ou ao analisarem elementos narrativos do filme. Esse estudo se faz necessario, e em francês se chama o estudo do récit cinematografico ou filmico (ainda nao encontrei uma traduçao boa para récit... talvez narraçao).

O livro é bem curto, para um assunto complexo, e as vezes até polemico.

Como o filme nos conta uma historia ? quais sao os elementos que o constituem ? quais sao suas particularidades ? por que o récit escrito, de romance por exemplo, é diferente do récit cinematografico ? Essas, e outras perguntas sao exploradas nos 8 capitulos do livro de Gardies.

Varios conceitos importantes sao discutidos ao longo do livro, como "o mundo diégético" e seus contratos com o espectador ; personagem ; o espaço ; o tempo ; ver e saber (questoes de interpretaçao do que a camera me permite ver e saber) ; a voz no filme.

O livro tem uma otima bibliografia também. Gardies se apoia em Roland Barthes, passando por Christian Metz, Michel Chion e outros tantos teoricos importantes no estudo da narraçao (escrita ou filmica).

O livro ainda tem um glossario no fim.

Recomendo a leitura.

Abraços

CH
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Mais um autor que gosto bastante, Philip Tagg. Ele escreve sobre musica popular e musica "do dia-a-dia". Seu campo de estudo é a semiotica (meu autor preferido em semiotica da musica). Ele tem alguns artigos sobre musica de filme, mas seus textos mais interessantes, e que contribuem bastante à minha pesquisa, sao os de como a musica comunica seus significados.

Outra coisa que gosto nele é que a maioria de seus livros sao e-books, ou seja, em versao eletronica. E a maneira como ele vende também é bem interessante : você paga o quanto quiser pelos livros (so existe um minimo exigido, mas que nao é caro). Assim que o livro é pago, ele envia por email. Rapido e limpo (o livro "fisico" viaja, e para viajar ele consome energia e combustivel... claro que a versao eletronica também consome energia, mas é mais ecologica que a impressa).

Outra coisa interessante sobre Tagg é que ele deixa seus cursos e a maioria de seus artigos disponiveis on line, de graça (assim como os de outros autores).

Recomendo seus artigos e seu site (que é um pouco desorganizado, mas mesmo assim vale a visita)

Abraços

CH
sábado, 30 de outubro de 2010
Frankenstein PosterAinda no mesmo dia que assisti The Jazz Singer, vi Frankenstein (1931), de James Whale.

O filme foi feito ainda na transiçao (da generalizaçao) dos filmes "mudos" para "falantes". Alguns problemas tecnicos ou "circustancias especiais" causados pela generalizaçao dos filmes falados sao vistos em Frankenstein. Como objetos em primeiro plano que escondem os microfones. Cenas de um pouco mais de açao ainda limitadas, por conta dos posicionamentos dos microfones para captura das falas. entre outros.

No site (dedicado a filmes classicos de terror), a musica original é creditada à Bernhard Kaun.

Frankenstein é um grande filme.

Na primeira cena o "narrador" (que seria mais o bonimenteur, aquele que contava, ou narrava os filmes dentro da sala de cinema, até mais ou menos a primeira guerra mundial... nao que o interesse fosse se apropiar da funçao desse, mas provavelmente seria de fazer um prologo, e mostrar que a historia poderia ser algo real) alerta o publico sobre o conteudo do filme. Isso visto em cinema deveria ser realmente assustador.

Encontrei o filme dividido em 7 partes no youtube. Colei o link da parte 3 por que o youtube nao esta me deixando abrir a primeira parte. Mas é so clicar na direita e ir vendo em ordem.

Encontrei no youtube também um documentario de como foi feito o filme (ele esta dividido em 5 partes).

Ainda nas minhas procuras na internet, encontrei um curta metragem, de 1910 de Frankenstein, feito pelos Estudios Edison.



Nao da para saber se os cartoes sao adptaçoes do original. A musica do video (midi, que alguem deve ter composto e colocado) nao foi creditada. Nada no video foi creditado. Mas segundo o archive.org (onde o video esta disponibilizado para download de graça) a direçao é de J. Searle Dawley.

Abraços

CH
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Ontem aproveitei a tarde fria para ver dois filmes. Um deles foi The Jazz Singer (1927), de Alan Crosland.

Jazz Singer foi o primeiro filme com dialogos sincronizados na historia do cinema.

Duas sequencias tiveram os dialogos sincronisados :

A primeira Jack Robin (interpretado pelo ja celebre cantor Al Jolson)  canta em um bar, e logo apos cantar a primeira musica ele diz "vocês nao ouviram nada ainda". Frase bem interessante, pensando que a propaganda do filme era em cima dele ser o primeiro com dialogos sincronizados, e as pessoas iam ao cinema ver The Jazz Singer para ouvir os dialogos. Al Jolson dirige essa fala às pessoas dentro do bar, em um plano onde a camera esta no mesmo espaço de seu publico. A partir desse ponto de vista da camera, o ator fala na realidade diretamente com o espectador. Apos uma breve passagem "falada", ele "anuncia" que isso nao é nada, que mais vira pela frente.

A segunda sequencia é a do dialogo entre Jack Robin e sua mae (quase um monologo, pois so o cantor Al Jolson fala e canta). Essa sequencia é engraçada, pois Al Jolson canta e fala enquanto toca piano. O piano foi "dublado ao vivo". Enquanto ele fingia que tocava, um pianista fora do campo da camera é que realmente toca o piano. Nessa sequencia, o pai de Jack Robin entra na sala e diz "Stop !!!", e os dialogos sincronizados, como por azar, param e o filme continua com a tradiçao dos filmes "mudos", com dialogos escritos em cartoes. 

O filme foi produzido pela Warner Bros, que ja tinha lançado alguns filmes sonoros sincronizados (sem dialogos, como Don Juan por exemplo, do mesmo diretor e mesmo engenheiro de som).

Nao encontrei o filme no youtube ou no google videos, ele deve ter os direitos protegidos ainda.

Abraços

CH
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
ajcAnnabel J. Cohen é uma importante pesquisadora em musica de filme. Ela trabalha com cogniçao musical no departamento de psicologia da Universidade Prince Edward Island.

Ela realiza desde os anos 80 pesquisas (empiricas) importantes no estudo do tratamento cognitivo da musica e imagem.

Um dos seu trabalhos mais citados é o quadro de como funcionaria a participaçao da musica, efeitos sonoros, texto, imagem, e voz na contruçao de significado e direçao de atençao no cinema (de 2005).

Ela disponibiliza quase todos seus artigos on line (em PDF).

Recomendo a leitura de todos seus artigos pois é importante reunir conhecimentos de diversas areas.

Seu artigo (junto com Marshall) de 1988 é igualmente um dos mais citados por outros autores, mas um dos mais contestados (principalmente o modelo proposto).

Mesmo nao sendo o objetivo de Cohen, seus artigos ajudam à realizaçao de analises (mais teoricas) de sequencias de filme.

Abraços

CH  
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Hoje assiti a The Robe (1953), do diretor Henry Koster.

Como a gente vê ai no cartaz, The Robe foi o primeiro filme feito  com o Cinemascopio (metodo de compressao da imagem na hora de gravar, e que é descomprimida na projeçao).

Com a importancia do cinema aumentado cada vez mais, surgem varios filmes épicos. E filme épico "pede" musica também épica, com grandes orquestras, coros, etc. The Robe nao foge "à regra". A musica foi composta por Alfred Newman  (compositor do tema classico da 20th Century-Fox) e orquestrada por Edward B. Powell .A musica é quase uma atraçao à parte. Ela é intensa e quase onipresente, mesmo entre dialogos. E, quando ela nao esta presente o filme é realmente silencioso, muitos sons foram deixados de lado. Mas, grande parte da ambiencia de estudio e chiados de microfone (ou da abertura da banda sonora para a entrada de dialogos) sao bem aparentes (me fez pensar que em algumas sequencias a musica realmente serviu de remendo).

Encontrei o filme no youtube. Esta dividido em 17 partes.

Abraços

CH

Terminei essa semana o livro Emotion and Meaning In Music, de Leonard B. Meyer. O livro é de 1956.

A importancia desse livro (citado por quase todos os teoricos que escrevem sobre emoçao e significado em musica) é que nele, Meyer analisa o tema de uma "nova" (nova na época) maneira. Ele se focaliza nas expectativas evocadas pela musica (sobretudo à criaçao e "decepçao" dessas expectivas). é importante também por considerar em sua teoria somente elementos musicais, internos à musica. Topics e outros elementos conotativos e metaforicos nao sao seu foco principal (ele explica o porque logo no começo do livro... mas Meyer usa o ultimo capitulo para discutir um pouco a questao de associaçoes). Seu livro influenciou outros importantes estudos (alguns mesmo bem recentes, como Huron 2007).

Claro que é a ler com um olhar critico. O livro é de 1956 e experiencias no campo da psicologia (cognitiva) musical ainda nao eram tao evidentes e desenvolvidas. Mas, apesar de criticas à sua teoria, duas coisas sao importantes e ainda restam validas : respostas emocionais "extraidas" de expectativas que os auditores desenvolvem em um determinado contexto (como dentro de genero musical por exemplo) ; e que nos aprendemos a ter esses comportamentos em resposta à determinados elementos musicais.

Ele nao entra em detalhes em como aprendemos a "esperar" algo da musica, mas ja é sabido, que nos aprendemos implicitamente, simplesmente à base de uma exposiçao repetida... mas isso é um assunto para um outro post.

Encontrei esse artigo sobre o livro. Na verdade é mais um resumo. Nao li, mas passando olho vi que ele resume bem alguns topicos.

abraços

CH

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