Criei esse blog para servir de "diario" do meu doutorado. Colocarei aqui livros que estou lendo, sites, artigos, etc. O espaço esta aberto para discussoes, entao sinta-se livre para dar sua opiniao, sugestao de leitura, entre outras coisas.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Como ja disse, gosto muito da maneira de pensar a relaçao entre musica e filme desse autor, entao resolvi postar um resumo (bem breve) de seu modelo de analise.

Os tres modelos de multimidia segundo Nicholas Cook (1998).1


Cook propoe un esquema analitico da musica dentro de um contexto multimidia, e desse esquema ele conclui que existem tres modelos basicos segundo os quais a musica se relaciona com uma outra midia. Ele parte de discussoes sobre a metafora e o carater emergente de significaçao que se produz dentro de relaçoes metaforicas. Cook se baseia também em seu conceito de multimidia : uma relaçao multimidia se baseia sobre uma combinaçao distintiva entre similaridades e diferenças que permite à diferentes midias de se conectarem uma a outra. A partir desse ponto de vista, Cook sugere que a relaçao entre duas midias passa por um teste de similaridade (similarity test) e de diferença (difference test), cujo o resultado determina « a natureza » dessa relaçao.

O primeiro teste, o teste de similaridade, determina se cada midia é consistente uma com a outra. Se as midias nao « sao aprovadas» por esse teste, elas passam em seguida para o teste de diferença. A partir desses testes, Cook enuncia tres maneiras basicas pelas quias as midias podem se relacionar : pela conformidade, pela complementariedade, e pela divergencia.

Teste de similaridade : Lipscomb e Tolchinsky (2005) nos ajudam a compreender esse teste de maneira bem simples. Durante esse teste, nos poderiamos colocar a seguinte questao «  seria possivel que a mesma informaçao estaria presente nas modalidades visual e auditiva ? ». Quer dizer, (segundo Cook) que nos nos questionamos se a musica e a imagem sao consistentes ou coerentes.
Cook utilisa a distinçao feita por Jakoff et Johnson (1980)2 entre as metaforas consistentes e coerentes. Essa distinçao é feita a partir do principio que existem metaforas que sao claramente ligadas, mas que nao sao identicas.

Cook da essa generalizaçao desses conceitos : a coerencia permite uma elaboraçao diferencial entre niveis de uma hierarquia : a expressao « este relacionamente nos levou à um beco sem saida » e « nosso casamento bateu nos rochedos » elaboram a metafora subjascente « o amor é uma viagem » de diferentes maneiras. Por consequancia, as metaforas sao conectadas pelo seu grau de « parentesco », elas se relacionam uma a outra pela sua derivaçao comum de « o amor é uma viagem ». Essas expressoes interpretam « o amor é uma viagem » diferentemente (viagem em carro, e viagem no mar). Mas, ligando as metaforas « nosso casamento bateu nos rochedos » e « essa relaçao naufragou », a categoria de consistencia exclui a elaboraçao de tal diferença ; nao existe diferença metaforica entre « nosso casamento bateu nos rochedos » e « essa relaçao naufragou » (as duas conectam o amor à viagem no mar), e, dessa forma, as duas expressoes se relacionam diretamente uma à outra (e também à « o amor é uma viagem »).3

Enfim, no teste de similaridade, se nos podemos afirmar que a relaçao pode ser invertida sem mudar o significado percebido (por exemplo : constatar que a musica e a imagem tem o mesmo significado), o exemplo de multimidia passa no teste de similaridade (as midias sao consistentes) e a relaçao entre elas é uma relaçao de conformidade.

Em resumo, o teste de similaridade é um teste de consistencia. No caso onde midias nao sao consistentes uma com a outra, e sao determinadas como sendo coerentes (quer dizer, elas nao foram aprovadas no teste de similaridade), nos entao passamos para a segunda etapa do modelo de Cook : o teste de diferença.

Teste de diferença : o teste de diferença é um teste de contradiçao. Se as midias sao aprovadas pelo teste, o resultado é entrao de divergencia. Mas se eles nao sao aprovadas, o resultado é de complementariedade. Aqui, nos nos perguntamos se as midias sao contrarias ou contraditorias. A contrariedade é, para Cook, uma diferencia indiferenciavel (e nos leva à complementariedade) ; e a contradiçao implica em um elemento de colisao ou de confrontaçao entre termos opostos (e nos leva à divergencia).

A divergencia se situa ao oposto da conformidade. A conformidade começa por uma significaçao originaria, seja localizada em uma média ou difundida entre todas ; de outra parte, a divergencia termina em uma significaçao. A conformidade tende ao estatico e o essencial, enquanto a divergencia é dinamica e contextual.

A complementaridade nao mostra nem consistencia, nem contradiçao. A diferença entre as medias constituitivas de um exemplo de multimidia é reconhecido – isso que distingue a complementaçao da conformidade – mas ao mesmo tempo, o conflito entre elas que caracterizaria a divergencia é evitada porque, à cada uma das midias é atribuida um papel distinto.

Cook nota que a ideia de complementariedade pode ser facilmente virar um pressuposto de superioridade (ou subordinaçao). Quer dizer que a musica pode ser considerada como comunicando o que as imagens e os dialogos nao dizem (emoçoes, estados de espiritos, etc.), mas ela ainda é assumida como sendo subordinada à imagem.

Cook sugere tres modos que podem nos ajudar a entender essa relaçao de superioridade/subordinaçao (e também de conformidade). Ele parte do principio triadico de Kandinsky4 das relaçoes entre midias (uma cor corresponde à um som na medida em que os dois correspondem à uma significaçao emocional ou espiritual subjacente). Ele distingue essa variedade triadica de conformidade à partir do que ele chama de variedades unitaria e diadica. Mas, que na realidade, nao ha uma diferença entre a variedade triadica das variedades unitaria e diadica, elas representam diferentes maneiras de conceituar uma mesma estrutura, entao, por isso, Cook prefere as nomear de categorias modais.

A conformidade diadica significa que uma midia corresponde diretamente a uma outra. E a conformidade unitaria significa que uma midia predomina, e que a outra se conforma com essa predominancia. Cook observa que essa relaçao de conformidade unitaria é rara dentro de uma relaçao multimidia

Mas, pensando as realaçoes de conformidades unitaria, diadica e triadica, como sendo modais (cada uma representa um mesmo modelo estrutural, mas com uma ênfase diferente), Cook « resolve» ou esclarece o problema do conceito de superioridade, ou subordinaçao. Essa subordinaçao quer dizer que uma relaçao multimedia dada pode ser mais facilmente compreendida em termos de uma de suas midias constituintes. Para ele entao, esse conceito de subordinaçao nao é um modelo estrutural nele mesmo, mas a subordinaçao (ou superioridade, é dificil achar melhor termo em portugues... primazia não é muito bonito e não seria bem adequada aqui) seria uma categoria modal (unitaria). E por isso, Cook pode a incorporar dentro de seu esquema de tres modelos basicos de multimidia.

Conformidade : desde que o efeito é de reforçar um sentido que já esta em uma media dada, Cook nomeia essa relaçao de superioridade de amplificaçao.
Complementariedade : implica a extensao de um sentido em um novo dominio, mas sem a colisao de significaçao que define a divergencia. Cook a nomeia de projecao.
Divergencia : no quadro da divergencia, a superioridade implica no antagonismo, na resistencia, na luta, Cook nomeia essa relaçao entao de dominaçao.


Cook esquematiza sua discussao, seus testes e resultados com o seguinte modelo :

Desenho do modelo de Cook, 1998.5


sugiro a leitura do livro para mais detalhes.


Abraços


CH

1Nicholas COOK. Analysing Musical Multimedia. New York : Oxford University Press, 1998, p 290.
2George LAKOFF & Mark JOHNSON, Metaphors We Live By, Chicago, 1980. In : Nicholas COOK, Analysing Musical Multimedia, Ibid, p 98.
3Nicholas COOK,Analysing Musical Multimedia, op cit., p 98.
4Nicholas COOK,Analysing Musical Multimedia, Ibid , p 46 et p 101.
5Nicholas COOK, Analysing Mucial Multimedia, Ibid, Figure 3.1 p 99.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
O Instituto Lumière começou em janeiro a fazer uma retrospectiva da obra de Alfred Hitchcock. Essa retrospectiva esta sendo feita em comemoraçao ao lançamento do livro : Alfred Hitchcock, une vie d'ombres et de lumière, de Patrick McGilligan. O instituto lumière edita o livro. 

Eles montaram uma programaçao cheia de projeçoes (de quase toda a obra de Hitchcock), analises, conferencias, noite de autografos, etc...

é uma otima oportunidade de ver seus filmes na grande tela. 

Comprei ingressos para varias noites, as que ja passaram foram : 

Fenêtre sur cour Poster


Um dos meus filmes prediletos de Hitchcock. Com a camera em um so "lugar" ele consegue fazer um filme cheio de suspense e humor. Uma aula de direçao... Ve-lo na grande tela nos faz perceber detalhes que sao dificeis de perceber em casa (no computador e na tv). 

A trilha sonora e sons ambientes sao outra marca registrada de Hitchcock, e em Janela Indiscreta, suas construçoes de humor, psicologicas, etc, sao bem marcantes.

Imperdivel.

Rebecca Poster

Outro dos meus preferidos de Hitchcock. Esse foi seu primeiro filme produzido nos EUA, e sobre a produçao (com maos de ferro) de David Selzinick. Selzinick é conhecido por suas produçoes inflexiveis, onde o diretor nao tem quase poder algum sobre suas escolhas, e mesmo sobre a montagem do filme. Com Rebecca nao foi diferente, quase todas as escolhas de atores foram feitas por ele, o compositor foi escolhido por ele (a musica foi composta pelo celebre Franz Waxman)... Hitchcock ainda contou com a sorte de seu filme nao ter sido muito mudado na fase final de pos produçao. 

Pela primeira vez Hitchcock passa por diverssas censuras : a do propio estudio, imposta pelo codigo Hays (que regulamentava varias coisas, como por exemplo um casal so podia dormir junto se eles fossem casados, o "bandido" deveria ser sempre punido, entre outras coisas). Em Rebecca, Hitchcock "contorna" algumas imposiçoes do codigo, mas mesmo assim ele é seguido a risca... 

Hitchcock também experimenta a "avant première" do filme. Nos EUA é comum o filme, apos finalizado, ser visto por uma plateia heterogenia, onde cada pessoa ganha uma ficha e escreve o que pensa do filme (desde a atuaçao de um ator, até trilha sonora, duraçao do filme, etc). Assim, o estudio, ja com essas avaliaçoes, pode mudar o filme antes da saida oficial nas salas de cinema. 

Seria bem complicado fazer uma analise de Rebecca em poucas palavras, o filme é tao cheio de detalhes, que a cada vez que vejo (essa foi a terceira) eu percebo algo diferente... mais para frente posto alguma coisa sobre a musica, os sons e algumas imagens (motivos) do filme. 

Mas é interessante ver a influencia do filme Rebecca sobre Citizen Kane (1941) de Orson Welles. Mas é engraçado saber que Hitchcock decidiu fazer a adaptaçao do livro Rebecca apos ouvir uma adaptaçao para a radio, feita por... Orson Welles ! Welles chega mesmo a citar Rebecca em alguns planos e sequencias de seu filme...
   
Até a proxima

Abraços

CH
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011



Livro referencia na analise de musica em "instancias de multimédia" (como diria o propio COOK). Seu modelo de analise é o ponto mais conhecido de seu livro, mas seu método analitico e seu pensamento critico em relaçao à analise "de midias musicais" sao pontos bem interessantes e tao importantes quanto seu modelo (vale lembrar que o livro foi escrito em 1998, e realmente nao existiam muitos métodos e modelos de analise na época). 

Para Cook uma midia se relaciona com outra (à partir de semelhanças entre elas, assim uma troca de atributos é possivel... como em relaçoes metaforicas) e um significado emerge dessa interaçao (por exemplo a musica se relaciona com o filme e a troca de atributos entre eles faz emergir um significado x). 

Cook sustenta que a musica nao tem um significado intrinsico à ela, mas que ela possui um "potencial de significaçao". E a realizaçao desse potencial se da em funçao do contexto no qual a musica é percebida (esse contexto pode, também envolver outras midias, como imagens, texto, etc.).

O livro conta com 6 analises (3 curtas analises no começo do livro, e 3 mais longas no fim) e muitos exemplos. Varios graficos, desenhos e partituras (mas seus graficos e figuras sao bem confusos e nem um pouco praticos). Cook coloca muitos textos em notas de "pé de pagina", o que é realmente chato apos 3 ou 4 longos textos em letras "miudas".

O livro conta ainda com uma otima bibliografia a ser consultada.

Com um pouco mais de tempo colocarei aqui, na parte de teoria, seu modelo analitico e um pouco mais de suas ideias.

Abraços

CH  

terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Ja tem um tempo vi com o filme Comer, Rezar, Amar (2010) de Ryan Murphy, por recomendaçao de varias pessoas.

O filme se encaixa na formula hollywoodiana ("hiper-classica", segundo Bordwell) de narraçao em 4 partes : Prologo, Setup, Desenvolvimento e Climax (assim que tiver tempo postarei essa parte teorica, espero nao demorar muito...). Uma coisa interessante é que o filme tem dois desenvolvimentos. Mas de resto, ele entra dentro das "normas" classicas de narraçao... quando escrevi esse post tinha visto o filme no dia anterior, e para falar a verdade nao me lembrava mais da musica... so alguns motivos, principalmente no final (a bossa nova = personagem "brasileiro")... lembro também de uma incoerencia, a sequencia com "A rainha da noite" de Mozart... fiquei sem entender...

A fotografia é bonita.

Abraços

CH

ps : me desculpem ainda pelos textos curtos... o tempo ainda esta curto...
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Vimos esses dias é Proibido Fumar (2009) de Anna Muylaert.

O filme é um pouco lento, com algumas atuaçoes duvidosas, mas sai das narraçoes classicas hollywoodianas o que ja é um ponto positivo. Alguns planos me deixaram confusos e nao adicionam muita coisa ao filme... a trilha sonora, que poderia ter sido muito bacana, é confusa, com musicas de violao sem conexao uma com a outra, e citaçoes nao tao bem aproveitadas, ela é de longe (junto com as dancinhas, que o cinema brasileiro cismou em colocar em quase todos os filmes dos ultimos anos) o ponto fraco do filme... mas poderia ser pior.

Mas vale a pena ver o filme, para mudar um pouco os ares... a historia, e o final sao bem interessantes.



Vimos também o Se Nada Mais Der Certo (2009) de José Eduardo Belmonte.

Uma bela surpresa (quando o filme tem galãs da globo, sempre fico meio desconfiado). O filme tem uma fotografia muito bonita e diferente do que estamos acostumados a ver... explosoes de branco ou imagens escuras demais sao bem interessantes... os "grandes planos" com camera "no ombro" sao muito bonitos e sao caoticos, como a historia do filme...

Boas atuaçoes (ou atuaçoes nao comprometedoras) e uma trilha sonora interessante, critica e ironica (com cançoes de musicais infantis por exemplo)... ah sim, referencias a diversos filmes sao bem legais também.

O filme é longo, talvez até demais, mas é um dos bons filmes brasileiros dos ultimos anos...


Abraços

CH

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