Criei esse blog para servir de "diario" do meu doutorado. Colocarei aqui livros que estou lendo, sites, artigos, etc. O espaço esta aberto para discussoes, entao sinta-se livre para dar sua opiniao, sugestao de leitura, entre outras coisas.
sábado, 5 de março de 2011
Outro dia fui ao cinema ver Black Swan (2010) de Darren Aronofsky.

Esse é o filme mais falado dos ultimos meses. Criticas brotaram em toda a internet. Nao descreverei o filme aqui, vocês podem achar otimas criticas, com boas descriçoes no google. Aqui, darei a minha impressao e farei uma leve analise, baseada no que ainda me lembro do filme.

Discordo da grande parte das criticas que dizem que o filme nos faz  "mergulhar" nos "pensamentos internos", ou no "subconsciente" da personagem de Natalie Portman (que por sinal, é um dos pontos fortes do filme). Proponho um "culpado" : a trilha sonora. 

Vamos do começo : os sons do filme sao muito bem feitos, e eles sim nos ajudam a "mergulhar" na personagem. Os sons de asas batendo, vozes, etc, que ela "escuta", ou que fazem parte de suas alucinaçoes sao muito bem empregados, e faz com que o espectador compartilhe ou perceba esse lado "esquizofrenico" da personagem. Esses "sons internos subjetivos", ou seja o sons "da cabeça" de um personagem sao usados desde os tempos do "cinema mudo" (a musica representando estados de espirito internos dos personagens). Até ai um otimo recurso, mas nada novo. 

A trilha sonora foi composta por Clint Mansell. Ele utiliza como material de base a musica original do Ballet de Tchaikovski (como ja era de se esperar). Para o filme, Mansell rearranja varias partes do Ballet, distorcendo e manipulando o material musical original. Algumas cues foram compostas originalmente para o filme também. 

Explico porque acho que a musica nao colabora com o estado psicologico da personagem, pelo menos por grande parte do filme :

Nos dois terços iniciais do filme, quando a personagem é apresentada, e onde se passam varias de suas alucinaçoes (os sons de asas, etc) a musica tem muitas resoluções. Resoluções harmonicas e de forma, no sentido mais "classico" da harmonia tradicional. Para você leitor que nao conhece teoria musical, nao se aflija.

Como ja disse por aqui, todos nos somos experts em musica, principalmente em nossa musica tonal ocidental. Não precisamos ter o conhecimento explicito, para conhecermos e reconhecermos o que acontece "implicitamente" na musica. O filme nos apresenta uma personagem com alucinaçoes, paranoias, e esquizofrenias. Entao o filme teria que representa-la assim. O filme é bem sucedido em fazer essa representação usando todos os seus outros recursos "imperceptiveis", como fotografia, sons, montagem, etc, e alguns mais explicitos como as imagens (suas visoes, fantasias, etc.). Mas para nos convercer de maneira mais precisa esse estado psicologico da personagem, a musica nao poderia ter ficado de lado. Como diria Donnelly (2005), a musica é o subconsciente do filme (não que eu concorde com esse ponto de vista, mas nesse caso é uma boa metafora).

Desde o "nascimento da linguagem" musical empregada em filmes como a conhecemos, a musica atonal (ou serial, etc) representa estados mentais alterados. E isso tem um porque : sistemas atonais sao extremamente instaveis (ainda mais para um publico nao acostumado à escutar esse "tipo" de musica). A instabilidade é o ponto principal da musica atonal. Sem nenhuma referencia (tonal) o auditor fica perdido, nao consegue antecipar eventos futuros, e isso cria tensao, instabilidade e estranheza. Tudo o que gostariamos de experienciar em Black Swan.

Bom, isso nos dois terços iniciais do filme. Ja no final o compositor usa e abusa de climaxes musicais. O climax por si so é uma forma muito instavel, podendo ter alternancias de dinamica, sons mais altos, agudos, etc... tudo isso cria tensao, instabilidade e estranheza também. Ponto para a musica, que transforma o final do filme em uma alegoria de alucinaçoes, delirios, etc.

Nao me intendam mal, Black Swan é um otimo filme, mas sua musica nao o deixa ser um classico ou algo que ficara gravado em nossa memoria por muito tempo. 

Indico assisti-lo no cinema, onde o som é bom, porque esperar para ver em DVD pode ser muito decepcionante. Pois o som em casa nao tem o volume (a presença) que encontramos nas salas de cinema.

Abraços

CH  

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