Criei esse blog para servir de "diario" do meu doutorado. Colocarei aqui livros que estou lendo, sites, artigos, etc. O espaço esta aberto para discussoes, entao sinta-se livre para dar sua opiniao, sugestao de leitura, entre outras coisas.
quarta-feira, 16 de março de 2011



O primeiro filme deu muito o que falar, saindo mesmo com o carater de documentario (lembro de amigos falando que era "o filme proibido" sobre a policia do Rio... o filme vazou e vendeu muitas copias piratas antes mesmo do lançamento nos cinemas por conta dessa historia "de documentario"). Esse lado "documentario" também é explorado no segundo filme (mesmo com o aviso logo no começo dizendo que tudo é uma obra de ficção, mesmo que alguns acontecimentos possam ser verdade, ou possiveis, etc). Isso ja estimula a imaginaçao do espectador que ja antecipa algumas relações do filme com a realidade.

A historia é interessante, e claro, tudo que se trata de corrupçao, intrigas e teorias conspiratorias é sempre interessante e instigante. Amigos que viram o filme me falaram que ele "retrata a realidade" ou "é isso ai mesmo que acontece no Rio" etc. O filme é contruido para causar essa impressão. Partindo da historia, claro, mas seus recursos narrativos contribuem para esse julgamento.


A primeira coisa que me saltou aos olhos foi a camera e seus movimentos. Ela é utilizada em grande parte do filme como "camera no ombro" ou seja, aquela camera que nao enquadra "direito" ou que fica "tremendo". Esse tipo de filmagem é bem caracteristica de documentarios, ou melhor, de documentarios "jornalisticos" (e de alguns outros generos também, como o filme de familia). é esse tipo de conotação que Padilha (que tem um historico importante como documentarista) projeta nessas sequencias de "camera no ombro". A camera esta ali, ela faz parte do que esta acontecendo, ela é uma testemunha (privilegiada e participativa) de algum evento. Consequentemente, nos somos testemunhas também, porque nos enxergamos o que a camera nos mostra. Esse movimento de camera se enquadra perfeitamente na tematica do filme (da denuncia da "realidade"). Estava esperando algum sangue "pular" na camera (como acontece em grande parte de filmes de guerra americanos, ou de carater documental, ou jornalistico), felizmente Padilha nao vai tao longe.

é interessante notar que a camera so fica "parada", ou faz travelings (aqueles movimentos suaves para os lados, para traz, para frente) em momentos de espetaculo, ou de pouca relaçao com a "realidade". A camera "jornalistica" mostra planos médios, ou de grande zoom, mostrando o torço da pessoa, ou somente o rosto (ou partes dele). A camera espetaculo, mostra tudo o que compoe a cena, todo o campo. Exemplos : quando o Capitao Nascimento fala com a tropa (e a camera mostra os movimentos coreografados dos policiais),o tempo que passa, o discurso no final, as imagens "de vista" que sobrevoa Brasilia... entre outras.

A musica também ajuda nessa "vulgarizaçao" dos acontecimentos. O filme começa com a cançao "Tropa de Elite" do Tihuana, que ja havia sido utilizada como trilha do primeiro filme. Ela acompanha toda uma sequencia que recapitula o primeiro filme. Cançoes servem como um ativador de tempo, criando uma especie de efeito video clip, onde o tempo pode passar mais rapido (a musica serve mesmo como um catalizador de acontecimentos). Cançoes também nos remetem ao dia a dia. No cinema, o que ela "acompanha" passa a ter um carater de cotidiano, de algo que nao é especial, mas de algo palpavel e possivel.

A cançao ainda ajuda a popularizar o filme, pois tem uma facil comercializaçao e difusao (radio, etc). E como a associaçao ja é bem forte, onde a "musica vai, o filme vai junto".

A trilha sonora é utilizada de maneira bem classica, e mostrando influencias de musica pop (pela instrumentaçao e forma), eletronica (também pela instrumentaçao) e mesmo a trilha classica (orquestral). Essa mistura, ou amalgama (pop influenciando filme, e filme influenciando pop) é uma tendencia vinda principalmente dos anos 60, 70 e uma quase generalizaçao à partir dos anos 80. Mas a utilizaçao do material musical ainda é bem classica. O ponto forte é a utilizaçao da guitarra eletrica com uma distorçao pesada em momentos de açao e tençao. A guitarra faz alguns sons curtos e graves, fazendo (imitando o ritmo de ) uma especie de respiraçao ofegante. Essa "respiraçao" percebida na musica se reflete no espectador, e influencia sua maneira de perceber e julgar uma cena. O espectador é capaz de perceber essa respiraçao, mas ela também é capaz de induzi-lo a respirar assim também (principalmente nas salas de cinema, onde os graves são mais potentes... na maioria das vezes os graves "nao sao ouvidos pelos nossos ouvidos", e sim pelo nosso corpo, o que gera desconforto). Cinema é respiração, e o filme trabalha isso muito bem... criando tensão e resolução.

No terço final do filme, assim que o filho do Capitao Nascimento recebe um tiro, o filme meio que se perde. A fotografia mais "natural", justamente de carater jornalistico se perde, e ele adota conveçoes hollywoodianas muito fortes. O filme passa a ficar azul e laranja (como ja mostrei aqui). O que estou começando a achar insuportavel. O roteiro se perde um pouco, deixando dialogos e ações meio obvias (a velha formula Hollywoodiana de "açao e consequencia"), e o discurso do final do filme (e sua consequencia) é meio inesplicavel...

Os créditos finais sao acompanhados de mais uma cançao : O Calibre, dos Paralamas do Sucesso. Cançoes nos créditos finais costumam trazer em sua letra um resumo da ideia geral do filme. Isso é bem caracteristico do cinema Hollywoodiano onde tudo deve estar claro e motivos sao repetidos à exaustao (se alguem ainda tem alguma duvida sobre o carater de denuncia do filme, com essa cançao no final ela nao existira mais... assim se espera).

Nao posso esquecer da voz off do Capitão Nascimento que narra a historia, mais um motivo que remete ao documentario. 

Padilha usa muitos recursos classicos Hollywoodianos em Tropa de Elite, o que pode justificar o sucesso de bilheteria do filme. Padilha recentemente recebeu um "convite" para dirigir o remake de Robocop nos EUA (frutos de suas "tecnicas" hollywoodianas ?). 

No geral é um bom filme, mas nao o bastante para ser o filme brasileiro de melhor bilheteria da historia do nosso cinema Br.

Abraços

CH

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