Criei esse blog para servir de "diario" do meu doutorado. Colocarei aqui livros que estou lendo, sites, artigos, etc. O espaço esta aberto para discussoes, entao sinta-se livre para dar sua opiniao, sugestao de leitura, entre outras coisas.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Como prometi, vou postar o "tri-circulo" do som no cinema de Michel Chion. 

Em seu livro L'audio-vision Chion considera tres maneira de expressao sonora no cinema : dialogos, "barulhos" (ruido seria a traduçao para a palavra bruit, que em frances tem um significado mais amplo e nao tao pejorativo quanto barulho... sons em portugues é muito amplo também... enfim) e musicas. 

Essas tres expressoes sonoras se relacionam com a imagem de duas maneiras em relaçao à sua fonte sonora : quando sua fonte sonora é visivel e quando a fonte sonora nao é visivel.

1 - Fonte sonora nao visivel :
Som "fora do campo", ou fora do campo de visao (son hors-champ) : a fonte sonora nao é visivel na tela, mas ela pode fazer parte do "espaço-tempo" da ficçao. Também conhecido como som diegético. A diégèse designa o universo da ficçao, o mundo sugerido que o filme mostra.
Chion divide ainda o som "fora do campo" em :

Som "fora do campo" ativo (hors-champ actif ) : quando os sons, que nos nao vemos sua fonte (sons acousmaticos, segundo Chion), sao pontuais. Eles sao normalmente objetos (ou personagens) que participam da historia, e que, uma vez que eles nao sao vistos, eles consequentemente fazem o espectador se questionar  (Lipscomb e Tolchinsky, 2005, sugerem que essas questoes podem ser feitas conscientimente ou nao) : quem é que fala ? como é o rosto desse que fala ? o que fez esse som ? etc. Um bom exemplo de som "fora do campo" ativo (dado por Chion) é a voz da mae em Psycho (1960, Hitchcock).

Som "fora do  campo" passivo : (hors-champ passif) : constituido sobretudo de sons de ambiencia, cuja as fontes sonoras nao fazem parte diretamente da narraçao do filme.

Som off : o som emana de uma fonte invisivel situada dentro de um espaço-tempo diferente do representado na tela. Conhecido também como som extradiegético.

2 - Fontes sonoras visiveis :

Som in : o som emana de uma fonte visivel na tela. 

é importante notar que essas tres maneiras de relacionamento entre som e imagem sao intercabiaveis e dinamicos. Quer dizer que uma mesma fonte sonora pode transitar entre os tres. Por exemplo : uma musica que emana de um aparelho de radio que nos vemos na tela, dentro de um quarto junto com um personagem (som in) – em seguida, o personagem sai do quarto e a camera o acompanha, mas nos continuamos a ouvir a musica do radio (mas agora nos nao o vemos mais, som "fora do campo") – o personagem sai de casa, e a mesma musica e a camera o acompanham (som off, pistas da mixagem sao dadas também, por exemplo a musica ganha corpo e volume).

Chion integra a musica nesse modelo de fontes sonoras, mas a nomeia diferentemente :

Som in/"fora do campo" : musica de tela (musique d'écran), conhecida também como diegética. A fonte sonora faz parte do mundo da ficçao, ela esta dentro do tempo e do espaço da açao. Ela pode ser visivel (in) ou nao (fora do campo).

Som off : musica de fossa (conhecida também como musica extradiegética). A musica vem "de lugar nenhum", ela nao faz parte do mundo da ficçao, ela esta fora do lugar e do campo de açao. 

O modelo de Chion sugere ainda outros conceitos referentes à modulaçao do campo de açao, e em relaçao aos pontos de vista topologicos e espaciais :

Extensao : sobre uma imagem, nos podemos dilatar o mundo que nos nao vemos, o mundo "fora do campo" de visao, onde a imaginaçao é despertada pelo som. A musica pode igualmente produzir essa extensao (como defende Gorbman, 1987, e Lipscomb e Tolchinsky, 2005, com o conceito de profundidade espacial). Para Chion, o som pode criar um mundo "fora do campo" de visao de extensao variavel. Ele considera duas variaçoes de extensao :
Extensao nula : o universo sonoro é retraido aos sons ouvidos somente por um personagem, e somente ele.
Extensao vasta : os sons ambientes estao presentes juntos com o som do campo de açao. Por exemplo, os sons dentro de um quarto (som in), mas também os sons "fora do campo" como os sons da rua, de uma sirene de policia bem longe, sinos de uma igreja, enfim, do universo do filme.

Som ambiante (som-territorio) : eles servem para marcar um lugar, um espaço com sua presença continua e espalhados por todos os lugares. é essa ambiencia que engloba uma cena (cantos de passaros, barulho da cidade, etc).
Som on the air : sao os sons presentes em uma cena e que sao transmitidos eletronicamente (radio, telefone, etc) e que contrariam às leis mecanicas "naturais" de propagaçao do som. Eles fazem parte do mundo sonoro do filme, mas se propagam livremente (como nos ja vimos em American Graffiti).
Som interno : é o som que corresponde ao interior fisico ou mental de um personagem, ele pode ser :
Objetivo : sons fisicos produzidos pelo corpo (respiraçao, batimentos cardiacos, etc).
Subjetivo : sons que estao dentro da cabeça do personagem (vozes mentais, lembranças, etc).

Chion ilustra sua teoria com esse modelo : 

Desculpem, o modelo esta em frances, nao tive tempo de fazer um outro em portuges, esse foi tirado da minha dissertaçao de mestrado (mas esta presente no livro do Chion). 

Os termos em negrito sao as grandes divisoes de fontes sonores no cinema. Elas estao divididas por linhas. Alguns conceitos cruzam essas linhas, pois podem interagir de varias maneiras com a imagem (como vimos no exemplo do radio).

Esse modelo nos ajuda a nos localizar nesse mundo virtual criado pelo filme. Ele é um bom ponto de partida para a analise do som  e também da musica no cinema.  

Sugiro a leitura do livro L'audio-Vision para maiores detalhes...

abraços

CH

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